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O cristão sem hermenêutica é levado ao extremismo político

No começo deste ano, o país presenciou ataques extremistas ligados a ideologias políticas dentro do meio cristão. Ataques estes, sendo apenas a consequência de algo muito mais profundo, enraizado, que revela estados de corações.

Ao ver tudo o que aconteceu, tanto os atos quanto a divisão política dentro das igrejas, nosso primeiro pensamento pode ser “será que estas pessoas não eram pastoreadas? Não liam a Palavra?”. Muito pelo contrário, tudo isso revela ovelhas com pastores, dentro de seus cercados, mas com uma interpretação bíblica errônea.

Tudo isso se dá a falta de hermenêutica bíblica correta. Vimos rebanhos dentro de seus apriscos, ensinadas de que existe um vilão político do lado de fora, quase como a figura do próprio diabo, espreitando a espera de uma brecha para poder adentrar e corromper tudo de bom que existe.

A raiz da hermenêutica política errada

Muitos destes nossos irmãos foram ensinados, dentro das próprias igrejas e em sua maioria, por líderes pouco capacitados ou mal-intencionados. Este fato é importante para nos atentarmos de que muitas interpretações erradas, tendenciosas ou superficiais das Escrituras foram levadas durante os anos sem se atentar à sua real importância e problema.

Também pode se dizer que essa divisão e ensinamentos errôneos são frutos de corações egocêntricos, ao ponto de olhar para as Escrituras, não compreender algumas abordagens e identificar o problema como sendo da própria Palavra Divina, revelada pelo próprio Deus Legítimo. Seja por nossas limitações ao interpretar ou por preguiça, soberba e outros pecados, que levam a Igreja ao tendencialismo de suas próprias verdades.

“[…] uma interpretação satisfatória da Bíblia requer uma pré-disposição submissa. O que nos motiva a estudar a Bíblia? O desejo de sermos eruditos? Considere o alvo do salmista: “Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo o meu coração a cumprirei” (Sl 119.31)” (KAISER, JR, C. WALTER e SILVA, MOISÉS, 2014, p. 25).

Assim como definido por Walter C. Kaiser e Moisés Silva, uma interpretação correta das Escrituras exige de nós reconheceremos nossa limitação, nossa condição de forma submissa e humilde, na posição de servos e aprendizes, com fim de sermos preenchidos pela Verdade Bíblica.

Maniqueísmo político de valores

Toda essa consequência presenciada por nós brasileiros e assistida mundo afora vem sendo cultivada por anos, mais precisamente no período de 2018. As igrejas começaram um movimento dualista entre bem e mal, definidos por seus líderes, moldados por seus próprios interesses, ignorância, falta de discernimento e uma cosmovisão antropológica.

Divididas entre si, entre direita e esquerda, muitas igrejas brasileiras tomaram decisões distintas, diante de tantas interpretações bíblicas sobre as adversidades à sua frente. Seja em instruir suas ovelhas em parâmetros bíblicos sobre política, questões de gênero e sexualidade e até o esquecimento da sociedade diante dos valores cristãos. Essas igrejas, utilizaram do método texto-prova para suas interpretações bíblicas:

“O método texto-prova […] enfatiza o lado prático e pastoral da vida. Comumente, um significado bíblico é necessário para algum propósito da vida real e, por isso, o intérprete procura alguns textos escriturísticos que apoiem o tema atual ou a posição pastoral desejada” (KAISER, JR , C. WALTER e SILVA, MOISÉS, 2014, p.31)

Este método pode fazer com que igrejas e líderes desprezem a profundidade do texto, o propósito de sua revelação, contextos históricos e gêneros literários que foram escritos, já que se preocupam mais em pescar na Palavra, textos que baseiam suas próprias crenças, ideias, valores, opiniões e visão de mundo, do que inclinar suas mentes e corações para a auto interpretação das Escrituras.

Walter C. Kaiser, Jr e Moisés Silva (2014, p.31), ao apresentarem o conceito do método texto-prova, também citam algumas consequências deste método:

“[…] é vulnerável à alegorização, psicologização, espiritualização, e outras formas de ajustes rápidos e fáceis das palavras escriturísticas para dizer aquilo que se deseja que elas digam no mundo contemporâneo[…]”.

Apaziguador político ou isenção

A divisão entre igrejas, a quase canonização de alguns líderes e instituições e a demonização de outros, pode ser um dos problemas da falta de hermenêutica. Mas, existe outro fenômeno decorrente da má interpretação bíblica ou falta dela: a abstenção de interpretação.

Tentando fugir dos extremos, é comum perceber e conhecer igrejas que escolheram não interpretar as Escrituras, abraçar toda e qualquer ideologia, desde que não mexesse em alguns pilares centrais da fé como: Criação, Queda, Redenção, Consumação e Trindade. Isso acontece com alguns temas que seriam de suma importância a participação da igreja e discussões em discipulados, como, por exemplo, a conduta de um cristão, valores, dualismo e cosmovisão.

Ao escolherem não adentrarem nestes temas, líderes e igrejas colaboram para a anemia de suas ovelhas, as deixando sem rumo, perdidas e suscetíveis a compactuar com qualquer definição que lhes for mais atraente, mesmo que sem preceitos bíblicos algum, já que “qualquer coisa serve”.

Esse fenômeno pode ocorrer com o medo ou até aversão de alguns líderes e igrejas a qualquer semelhança com os extremos políticos de opiniões cristãs.

“Dada toda essa diversidade, tanto dentro quanto fora da igreja, e todas as diferenças até o mesmo entre os estudiosos, que alegadamente conhecem “as regras”, não é de se maravilhar que alguns argumentam em prol de nenhuma interpretação, em prol da simples leitura. Esta, porém, é uma opção falsa, conforme vimos. O antídoto da má interpretação não é simplesmente nenhuma interpretação, mas, sim, a boa interpretação.” (DULCI, PEDRO LUCAS apud GORDON FEE, ENTENDES O QUE LÊS?, 1982).

Conclusão

Como intérpretes bíblicos, nossa tarefa é manter uma boa relação entre Deus (o Autor), o texto (as Escrituras) e nós, meros leitores de toda a História da Redenção. Com humildade, discernimento que provém do Espírito Santo e corações mansos e humildes, buscando entender que uma visão dualista da Palavra serve apenas para distanciar a intenção do autor humano com a intenção Divina.

Como Igreja, devemos cultivar um cenário onde deixaremos de fazer a Palavra se encaixar em nossos próprios interesses, ou como esse oráculo mágico onde buscamos apenas respostas para nossos problemas. Nossa função é sermos servos e mordomos da Palavra, a vendo devidamente como o Livro Sagrado que é, onde existe a revelação do próprio Deus Criador.

Referências Bibliográficas

KAISER JR, C. WALTER e SILVA, MOISÉS. Introdução à Hermenêutica Bíblica: Como ouvir a Palavra de Deus apesar dos ruídos de nossa época. Tradução: Paulo César Nunes dos Santos, Tarcízio José Freitas de Carvalho e Susana Klassen. 3ª Edição. São Paulo-SP. Editora Cultura Cristã, 2014. 284 p.

GONÇALVES, Lucas. Queda e Graça na Política. Expressão In: Cultivar e Guardar. Cultivar e Guardar. São Paulo-SP, 02 de fevereiro de 2023. Disponível em: Cultivar e Guardar: Queda e Graça na Política.

DULCI, Pedro Lucas. COMEÇANDO DO COMEÇO: A Hermenêutica e os desafios da interpretação Bíblica, AULA 1.1 — POR QUE PRECISAMOS DE HERMENÊUTICA? Invisible College. 2023. Vídeo (22.33) Disponível em: https://hubinvisiblecollege.com.br/course/tutoria-essencial-2023


 
 
 

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